MISSA DO GALO - VALONGO


Veja a seguir, a cobertura que a TV Tribuna fez da Missa do Galo, no Santuário.
O vídeo foi extraído do Jornal da Tribuna - 1a. Edição de 25/12/2008.

Misterioso Presente de Natal - L. Boff



O Natal é a festa das crianças e da divina Criança que se esconde dentro de cada adulto. É altamente inspiradora a crença de que Deus se acercou dos seres humanos na forma de uma criança.

Assim ninguém pode alegar que Ele é apenas um mistério insondável, fascinante por um lado e aterrador por outro. Não. Ele se aproximou de nós na fragilidade de um recém-nascido que choraminga de frio e que busca, faminto, o seio materno.

Precisamos respeitar e amar esta forma como Deus quis entrar no nosso mundo. Pelos fundos, numa gruta de animais, numa noite escura e cheia de neve "porque não havia lugar para ele nas pousadinhas de Belém".

Mais consoladora é ainda a ideia de que seremos julgados por uma criança e não por um juiz severo e esquadrinhador.

Criança quer brincar. Ela se enturma imediatamente com todas as outras, pobres, ricas, japonesas, negras e loiras.

É a inocência originária que ainda não conheceu as malícias da vida adulta.A divina Criança nos introduzirá na dança celeste e no festim que a família divina do Pai, do Filho e do Espírito Santo prepara para todos os seus filhos e as suas filhas, não excluídos aqueles que, um dia, foram desgarrados.

Estava refletindo sobre esta realidade bem-aventurada quando um anjo, daqueles que cantaram aos pastores nos campos de Belém, se aproximou espiritualmente e me entregou um cartãozinho de Natal. De quem seria? Comecei a ler.

Nele se dizia:"Queridos irmãozinhos e irmãzinhas:



  • Se vocês ao olharem o presépio e ao verem lá o Menino Jesus no meio de Maria e de José e junto do boi e do jumento, se encherem de fé de que Deus se fez criança, como qualquer um de vocês;

  • Se vocês conseguirem ver nos outros meninos e meninas a presença inefável do Menino Jesus que uma vez nascido em Belém, nunca nos deixou sozinhos neste mundo;

  • Se vocês forem capazes de fazer renascer a criança escondida nos seus pais, nos seus tios e tias e nas outras pessoas que vocês conhecem para que surja nelas o amor, a ternura, o cuidado com todo mundo, também com a natureza;

  • Se vocês, ao olharem para o presépio, descobrirem Jesus pobremente vestido, quase nuzinho e lembrarem de tantas crianças igualmente mal vestidas e se sofrerem no fundo do coração por esta situação e se puderem dividir o que vocês têm de sobra e desejarem já agora mudar este estado de coisas;

  • Se vocês, ao verem a vaquinha, o burrinho, as ovelhas, os cabritos, os cães, os camelos e o elefante no presépio e pensarem que o universo inteiro é também iluminado pela divina Criança e que todos eles fazem parte da grande Casa de Deus;

  • Se vocês olharem para o alto e virem a estrela com sua cauda luminosa e recordarem que sempre há uma estrela como a de Belém sobre vocês, acompanho-os, iluminando-os, mostrando-lhes os melhores caminhos;

  • Se vocês se lembrarem que os reis magos, vindos de terras distantes, eram, na verdade, sábios e que ainda hoje representam os cientistas e os mestres que conseguem ver nesta Criança o sentido secreto da vida e do universo;

  • Se vocês pensaram que esse Menino é simultaneamente homem e Deus e por ser homem é seu irmão e por ser Deus existe uma porção Deus em vocês e por causa disso, se encherem de alegria e de legítimo orgulho;

  • Se pensarem tudo isso então fiquem sabendo que eu estou nascendo de novo e renovando o Natal entre vocês. Estarei sempre perto, caminhando com vocês, chorando com vocês e brincando com vocês até aquele dia em que chegaremos todos, humanidade e universo, na Casa de Deus que é Pai e Mãe de infinita bondade, para morarmos sempre juntos e sermos eternamente felizes".

Belém, 25 de dezembro do ano 1.
Assinado: Menino Jesus

FOTOS - Exposição de Presépios/2008

Veja a cobertura que o site dos Franciscanos deu à exposição de Presépios/2008 do Valongo.


Clique na imagem abaixo.


Jubileu de Frei Félix

Veja os belos momentos do Jubileu de Frei Félix a partir do site dos Franciscanos (http://www.franciscanos.org.br/) clicando na imagem abaixo.


Alegria: o Senhor está no meio de nós!!



Com o 4° domingo, o Advento chega ao auge. O evangelho traz o pleno cumprimento de todos os sinais que anunciam a vinda do Salvador.

A promessa feita a Davi, de que sua descendência teria seu trono firmado para sempre (2Sm 7; cf. 1ª leitura), realiza-se no filho de Maria, juridicamente inserida, através de seu noivo José (o noivado tinha força jurídica), na descendência de Davi (Lc 1,27).

A este filho, Deus dará - embora não do modo que se esperava - o trono de Davi, o governo da casa de Jacó (Israel) para sempre (cf. 2Sm 7,16). Já aprendemos, por estas últimas palavras, que as profecias se cumprem de um modo que a inteligência humana desconhece (1).

O modo de Jesus ser o Cristo que reinará para sempre, e o modo em que a casa de Israel se tomará um povo universal, nenhum contemporâneo de Maria o podia imaginar, e mesmo Maria só o vislumbrava como Mistério de Deus.

As profecias não são programas a serem executados. São sinais da obra inesperada que Deus está realizando, sinais que a gente só entende plenamente depois da obra realizada.

Outro sinal que a gente reconhece ao reler o A.T. à luz do Evento de Jesus Cristo é a profecia de Is 7,14.

Embora o rei Acaz não gostasse de que Deus se intrometesse nos seus negócios políticos, Deus lhe deu um sinal: o nascimento de um filho de uma mulher nova (“virgem”, traduz a versão grega do A.T., usada pelos primeiros cristãos). Esse filho seria chamado Emanuel, “Deus conosco” (cf. Mt 1,23; 4° dom. Adv. A).

No tempo de Is, isso significava: nos dias de catástrofe que hão de vir (722 a.C.: destruição do Norte e invasão do Sul pelos assírios), este rapaz de nome Emanuel, nascido como que por ordem de Deus, lembrará que Deus está com o povo.

Mas, para quem conhece a história de Jesus, esse sinal reveste um sentido novo. Prefigura o mistério de Deus, a obra de seu “sopro” ou “espírito” vivificador (cf. Gn 2,7; Ez 37,9; Sl 104[l03],29-30) em Maria, suscitando nela um filho que não é fruto da geração humana (Lc 1,34; cf. Mt 1,18-24), mas um presente de Deus à humanidade: sendo obra do Espírito Santo, que veio sobre Maria, este filho é chamado “Santo” e “filho do Altíssimo” (Lc 1,36; cf. as atribuições do filho real em Is 9,5-6; 11,1-5), o filho em que Deus investe todo seu bem-querer (Lc 3,22), enviado e ungido com seu Espírito (4,18). É o verdadeiro e definitivo “Deus conosco”.

Mas o sinal por excelência da realização da promessa é o próprio nascimento do precursor de Cristo, do seio de Isabel, que tinha a fama de ser estéril (1,36). João Batista é “sinal” no sentido mais pleno imaginável: seu nascimento mostra a força do Altíssimo gerando o Salvador; sua missão prepara o caminho para este Salvador; sua pregação anuncia o Reino que o Cristo inaugura.

Ora, a obra de Deus através da História, assinalada pelos referidos sinais, anunciada como plenificando-se na alegre saudação do Anjo, que proclama a plenitude da graça de Deus em Maria (Lc 1,28-30; cf. Sf3,14-15; Zc 2,14 etc.), só se toma fecunda para o homem se este o quiser. Daí, a importância de dizer: “Sim”.

Maria, respondendo ao Anjo (representando Deus mesmo) seu Fiat (“Faça-se em mim segundo a tua palavra”; Lc 1,38), colocando-se, como serva, a serviço do Senhor, é a primeira de todos os que, pela adesão da fé, “dão chances” à obra definitiva de Deus em Jesus Cristo. O Fiat de Maria representa a fé da humanidade e a disponibilidade com que a Igreja quer assumir o Mistério de Natal.

Diante de todos esses sinais, na história de Israel e de Maria, devemos afirmar o que Paulo nos diz na 2ª leitura: em Cristo se toma manifesto o que, desde séculos, as Escrituras, ao mesmo tempo que o assinalavam, escondiam: o Mistério de Deus (Rm 1,25-26; cf. Mt 13,35). Os autores escriturísticos vislumbravam uma presença fiel de Deus nos fatos provisórios da História.

Vistos a partir de Jesus Cristo, estes fatos tornam-se indícios do que se manifesta, em plena clareza, nele mesmo, e isto, para todos os povos, ao menos, quando conduzidos pela auscultação da fé (Rm 1,26) Por isso, podemos louvar e agradecer (1,27).
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  • (1.) 0 “recado” de Natã a Davi, de que sua descendência estaria firme para sempre (2Sm 7,16), foi entendido, originariamente, como a certeza de que Israel sempre teria um rei da dinastia davídica, e o nascimento de um filho real é saudado, em Is 9,6, como sendo a confirmação desta promessa. Depois que o Exílio (586-535 a.C.) abolira o reinado, o “para sempre” foi interpretado como significando “de novo”. Israel (reduzido a um pequeno resto, ou seja, a população de Judá, no sul do pais) teria um novo rei (davídico), um novo “ungido” (Messias ou Cristo). Mas o que é anunciado a Maria ultrapassa de longe o que os judeus depois do exílio esperavam.
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Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

(fonte: http://www.franciscanos.org.br/)

Exposição de Presépios/2008 - Valongo

Reportagem da TV Tribuna,
no Jornal da Tribuna - 1ª. Edição
Dia 17/12/2008

TEMPO DO ADVENTO


O Advento do ano B parece caracterizado sobretudo pela idéia do encontro com Deus, a realização da promessa de sua irrestrita presença junto a nós.

O primeiro domingo sugere uma atitude de preparação geral para o encontro com o Senhor, no fim dos tempos, no "último dia". Isso, porém, nada tem de trágico. Pelo contrário, a liturgia transborda de confiante esperança: "Se rasgasses os céus!"

A vinda do Juiz e Senhor da História não é, para os cristãos, a destruição da História, mas seu arremate. Os cristãos estão vigiando para, por sua dedicação aqui e agora, participarem do Reino transcendente.

O segundo passo do encontro é a conversão, ou seja, a transformação da vida, com vistas ao grande encontro final. A liturgia evoca aqui a pregação escatológica do Batista e as imagens isaianas da terraplanagem do caminho para o Deus libertador.

No 3º domingo já ressoa a alegria por causa da presença de Deus, testemunhada pelo Batista e pelo arauto de Is 61, que anuncia a boa-nova aos pobres.

No 4º domingo - o domingo de Maria - são confrontados o "sim" de Deus (promessa) e o "sim" da pessoa humana (Maria, "fiat"). Realiza-se a promessa do Messias da linhagem de Davi, graças à disponibilidade da Serva.
(www.franciscanos.org.br)

Cristo Rei e Juiz


Quando foi instituída, a festa de Cristo Rei tinha um nítido caráter militante: celebrava o Reino de Cristo na terra (cf. a espiritualidade da Ação Católica).


A renovação litúrgica fez desta festa o encerramento do ano litúrgico, acentuando mais o caráter transcendente e escatológico do reinado de Cristo, ao mesmo tempo rei messiânico (Pastor) e Filho do Homem (Juiz), trazendo a paz e o juízo.


O cerne desta liturgia é a parábola do Último Juízo (Mt 25,31-46), em que Cristo aparece como juiz escatológico, Filho do Homem, pastor messiânico e rei do universo (evangelho).


Tal amontoado de imagens numa só parábola não é comum, porém explica-se a partir do fundo veterotestamentário: a imagem do pastor em Ez 34(1ª leitura). Aí aparece Deus como Pastor escatológico (já que os pastores temporários, os reis de Israel, não prestam), para tomar conta do rebanho, cuidar das ovelhas enfermas e pronunciar o juízo entre ovelhas e bodes.


O texto completo de Ez 34 (não lido na liturgia) traz ainda outros elementos que permitem compreender melhor a parábola do Último Juízo. Deus fará justiça entre ovelhas gordas e ovelhas magras (protetor dos fracos).


Enfim, segundo Ez 34,23s, não é Deus pessoalmente, mas o Rei davídico messiânico que executará essas tarefas.


A parábola de Jesus explica o critério do juízo final: as obras de solidariedade, feitas ou deixadas de fazer aos pobres, são que decidem da participação ou não-participação do Reino.


Este critério não é expressamente “religioso”, relacionado com Deus como tal: os justos não sabem que os pobres representavam o Rei, eles não praticaram a misericórdia para impressionar o Rei, mas por pura bondade e compaixão para com o necessitado.


Essa despretensiosa bondade, inconsciente de si mesma, e o critério para separar “ovelhas e bodes”, pessoas de entranhado amor e pessoas de mera força.


Ora, olhando para a 1ª leitura, notamos que essa compaixão gratuita, que é o critério do Reino, e, no fundo uma imitação daquilo que Deus mesmo faz.Assumindo a causa dos fracos - dos famintos, desnudos, presos etc. – mostramo-nos filhos de Deus, “benditos do Pai” (Mt 25,34).


A tradição judaica atribui a Deus mesmo as obras que são aqui elencadas. De modo que podemos dizer: o Último Juízo será a confirmação definitiva da nossa participação na obra divina, desde já. Pois ser bom gratuitamente é o próprio ser de Deus: amor, misericórdia.


A bondade gratuita e pura revela-se quando a gente se dedica aos que não podem retribuir. É na doação ao “último dos homens”, o pobre, o marginalizado, o abandonado, que a gente dá prova de uma misericórdia de tipo divino.


Viver deve ser: assumir a causa dos que mais precisam. Deus mesmo faz assim. Este é o critério da eterna participação no senhorio de Deus e Jesus Cristo, seu filho predileto. Se somos “imitadores” de Deus já agora, podemos “agüentar” uma eternidade com ele (cf. oração final).


A 2ª leitura descreve a total vitória de Cristo sobre todos os inimigos, inclusive a morte. Restaura assim a criação toda, pois, assim como com o primeiro Adão entrou a morte na vida, no novo Adão é vitoriosa a ressurreição. Mas esta vitória não pertence a Jesus como propriedade particular.


Tendo submetido tudo a si, ele o submeterá ao Pai, para que Deus seja tudo em todas as coisas, e seja abolido o que é incompatível com Deus. Cristo aparece, assim, não apenas como rei messiânico, mas cósmico e universal. Porém, não um rei triunfalista, pois seu Reino é baseado no dom de si mesmo.


É o Reino do “Cordeiro” morto e ressuscitado (canto da entrada), não dos lobos. É a antecipação da vitória final dos que se doam ao mínimo dos seus irmãos.


Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
(fonte: http://www.franciscanos.org.br/)

Domingo - 16/11/2008 - Parábola dos Talentos



Podemos analisar nessa párabola, dois tipos de comportamento que talvez ajudem a caracterizar os cristãos de hoje (e de sempre!):

1) Os dois “servos” da parábola que, talvez correndo riscos, fizeram frutificar os “bens” que o “senhor” lhes deixou, mostram como devemos proceder, enquanto caminhamos pelo mundo à espera da segunda vinda de Jesus.

Eles tiveram a ousadia de não se contentar com o que já tinham; não se deixaram dominar pelo comodismo e pela apatia…

Lutaram, esforçaram-se, arriscaram, ganharam. Todos os dias, há cristãos que têm a coragem de arriscar.

Não aceitam a injustiça e lutam contra ela; não pactuam com o egoísmo, o orgulho, a prepotência e propõem, em troca, os valores do Evangelho; não aceitam que os grandes e poderosos decidam os destinos do mundo e têm a coragem de lutar objectivamente contra os projectos desumanos que desfeiam esta terra; não aceitam que a Igreja se identifique com a riqueza, com o poder, com os grandes e esforçam-se por torná-la mais pobre, mais simples, mais humana, mais evangélica; não aceitam que a liturgia tenha de ser sempre tão solene que assuste os mais simples, nem tão etérea que não tenha nada a ver com a vida do dia a dia…

Muitas vezes, são perseguidos, condenados, desautorizados, reduzidos ao silêncio, incompreendidos; muitas vezes, no seu excesso de zelo, cometem erros de avaliação, fazem opções erradas…

Apesar de tudo, Jesus diz-lhes: “muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu Senhor”.

2) O servo que escondeu os “bens” que o Senhor lhe confiou mostra como não devemos proceder, enquanto caminhamos pelo mundo à espera da segunda vinda de Jesus.

Esse servo contentou-se com o que já tinha e não teve a ousadia de querer mais; entregou-se sem luta, deixou-se dominar pelo comodismo e pela apatia… Não lutou, não se esforçou, não arriscou, não ganhou.

Todos os dias há cristãos que desistem por medo e covardia e se demitem do seu papel na construção de um mundo melhor. Limitam-se a cumprir as regras, ou a refugiar-se no seu cantinho cómodo, sem força, sem vontade, sem coragem de ir mais além.

Não falham, não cometem “pecados graves”, não fazem mal a ninguém, não correm riscos; limitam-se a repetir sempre os mesmos gestos, sem inovar, sem purificar, sem nada transformar; não fazem, nem deixam fazer e limitam-se a criticar asperamente aqueles que se esforçam por mudar as coisas…

Não põem a render os “bens” que Deus lhes confiou e deixam-nos secar sem dar frutos. Jesus diz-lhes: “servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde não lancei; devias, portanto, depositar o meu dinheiro no banco e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu”.

Dia dos Finados - 02/11/2008


A liturgia do dia dos Finados poderia ser chamada também a liturgia da esperança. Pois, como "o último inimigo é a morte"(1 Cor 15,26), a vitória sobre a morte é o critério da esperança do cristão. A morte é considerada, espontaneamente, como um ponto final: "tudo acabou". A resposta cristã é: "A vida não é tirada, mas transformada"(prefácio). Esta resposta baseia-se na fé na Ressurreição de Jesus Cristo.

Se ele ressuscitou, também para nós a morte não é o ponto final. Somos unidos com ele na vida e na morte (Jo 11,25-26; evangelho). Ele é a Ressurreição e a Vida: unir-se a ele significa não morrer, não parar de existir diante de Deus, embora o corpo morra e se decomponha.

Trata-se de uma fé, de uma maneira de traduzir o Mistério de Deus e da totalidade da existência. Já no AT, o autor de Sb observa que as aparências enganam: a justiça dos justos não é um absurdo diante da morte ("ele não aproveitou nada da vida!") . Pelo contrário, é o começo do "estar na mão de Deus", que não tem fim (1ª leitura). Assim também descreve Paulo a existência cristã como estar já unido com Cristo na Ressurreição, o que é simbolizado pelo batismo (2ª leitura).

O texto de Paulo introduz, porém, um importante complemento na idéia de que a existência do fiel e justo já é o início da vida eterna: Paulo não gosta nada do espiritualismo exaltado de pessoas que se consideram "nova criação" sem morte existencial da vida antiga. No primeiro cristianismo havia uma tendência para um conceito "barato" da vida eterna, um pouco ao modo dos gnósticos, que achavam que bastava participar de algum "mistério" esotérico para ter a imortalidade. Paulo insiste muito na realidade tanto da morte quanto da ressurreição do Cristo (cf. 1Cor 15,12-19). E para participar destas é preciso também crucificar o velho homem com Cristo.

Portanto, a certeza de estarmos nas mãos de Deus - pela fé em Cristo que nos torna verdadeiramente "justos"- não tira nada do caráter crítico da morte corporal: ela fica um véu, atrás do qual nosso olhar não penetra. Inclusive, para o cristão, ele é mais "séria" do que para quem vive sem se preocupar de nada, porque ela significa desde já a morte do homem "natural".

Não podemos viver com a perspectiva de sermos assumidos pelo Espírito de Deus, para ressuscitar com um "corpo não carnal, mas espiritual" (1Cor 15,44ss), se não nos acostumarmos ao Espírito desde já. O corpo espiritual de que Paulo fala é a presença "ao modo de Deus". Este é o nosso destino. Mas, se não nos tornarmos aptos para este modo agora, como seremos aptos para sempre?

Assim, a morte, para o cristão, é a pedra de toque de sua vida. Dá seriedade à sua vida. Valoriza, na vida, o que ultrapassa os limites da matéria, que é "só para esta vida" (1Cor 15,19). Abre-nos para o que é realmente criativo e supera o dado natural da gente. Um antegosto daquilo que é "vida pneumática", a gente o tem quando se supera a si mesmo, p.ex., negando seus próprios interesses em prol do outro.

O verdadeiro amor implica, necessariamente, o morrer a si mesmo. Superação do homem confinado na perspectiva material, tal é a realidade espiritual que encontrará confirmação definitiva e inabalável na morte. Na morte, o que é verdadeiro e definitivo em nosso existir supera a precariedade da existência. A morte é nossa confirmação na mão de Deus: Ressurreição.

Para tal existência, morta para o homem velho, é que o batismo, configuração com Cristo, nos encaminha. Portanto, vivemos já a vida da ressurreição, num certo sentido. Quem diz isto em termos expressos é João (evangelho). A Marta, que representa o conceito veterotestamentário da vida eterna - a ressurreição depois da morte, no fim dos tempos - Jesus responde que, quem crê nele, já durante sua vida tem a vida eterna (11, 25-26; cf. 5,24).

O fundamento de afirmação não convencional assim é que Jesus mesmo é o dom escatológico por excelência. Quem vê Jesus, vê Deus (Jo 14,9). Quem aceita Jesus na fé, não precisa esperar a vida do além para ver Deus (na linguagem do A.T., "ver Deus" era a grande esperança).

Com isso, estamos longe dos temas tradicionais referentes aos finados. De fato, a celebração dos féis falecidos é a celebração de nossa esperança e da comunidade dos santos, da "comunhão dos santos", tanto quanto a festa do 1o de novembro. A liturgia nada diz das penas do purgatório e coisas semelhantes, que tradicionalmente estão no centro da atenção neste dia. Ao deixarmo-nos ensinar pela nova liturgia, deslocaremos o acento desta comemoração. Vamos assmilar a espiritualidade desta liturgia, para ter uma visão mais cristã da morte, o passo definitivo que conduz à vida verdadeira.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
(http://www.franciscanos.org.br/)

Reportagem sobre o dia de Santo Frei Galvão, no Valongo (Santos-SP-Brasil)

Clique abaixo para ver a reportagem do "Jornal da Tribuna - 1a. Edição", da TV Tribuna, sobre Santo Frei Galvão, no dia 25 de outubro de 2008.


O Mandamento Maior - Domingo 26/10/2008


O povo de Israel foi muito bem educado. Em comparação com outras religiões, a de Israel dá um peso notável à ética. A 1ª leitura de hoje mostra, por um texto antiqüíssimo, como o povo era constantemente convidado a julgar com delicadeza o que convinha no cotidiano. Não oprimir os estrangeiros e migrantes (prática comum daquele tempo, como hoje), pois também eles foram uma vez estrangeiros. Não explorar viúvas e órfãos. Não exigir juros sobre o dinheiro emprestado a um pobre (outra coisa é o dinheiro creditado a um rico para especular ... mas os nossos bancos e financiamentos não conhecem essa distinção). Quem recebe um manto em penhor, tem que devolve-lo antes da noite, para o coitado não passar a noite fria sem coberta. Diante de tal pedagogia divina, o salmista, no salmo responsorial, pode com justiça exclamar que Deus é sua defesa e salvação. Tal Deus merece ser amado!

Os escribas de Jerusalém, impressionados com a sabedoria de Jesus (cf. domingo passado), queriam saber como ele resumiria a Lei. Pois, no meio do legalismo farisaico, que multiplicava as regras e intepretações, alguns, como o liberal rabi Hilel, achavam que era preciso simplificar a Lei e procurar-lhe um princípio central, uma chave de interpretação. Tal chave de interpretação, revelando o espírito mais profundo da Lei, Jesus a encontra no mandamento que todos os judeus sabiam ser o primeiro (citado no “Shemá Israel”, Dt 6,4ss): amar a Deus acima de tudo. Mas, acrescenta Jesus, há um segundo, de igual peso: amar ao próximo. Nestes dois mandamentos, qual uma porta nos seus gonzos, repousa toda a Lei (evangelho).

Segundo os evangelhos sinóticos (Mt 22,34-40 e par.), Jesus situou o cerne da Lei (que quer ser a expressão da vontade de Deus) no amor a Deus e ao próximo. Paulo, Tiago e João só falam no mandamento do amor fraterno (cf. Rm 13,8-10; Gl 5,14; Tg 2,8; Jô 13,34 etc.). Essa diferença não é fundamental, pois não se consegue amar bem ao irmão se não ama a Deus, isto é, se não se procura conhecer sua vontade absoluta referente ao irmão. Pois quem não admite Deus em sua vida se coloca a si mesmo como Deus para os outros... Mesmo se não se confessa a fé em Deus com as palavras de nosso Credo, é preciso admitir alguma instância absoluta para amar ao irmão como convém e não conforme veleidades subjetivas. ( Há muitos que se amam a si mesmos no próximo: mães “corujas”, revolucionários ambiciosos, benfeitores espalhafatosos, apóstolos que procuram afirmação pessoal etc.)

Convém considerar também a unidade dos dois mandamentos pelo outro lado: não se pode amar a Deus sem amar o irmão (cf. 1Jo 4,20). Já no Antigo Testamento conhecemos Deus como protetor e defensor dos mais fracos. Como nos daríamos bem com ele, oprimindo nosso irmão?

Como poderíamos ser amigos do pai sem amarmos seus filhos? Quando os mensageiros anunciaram a Davi a “boa” notícia da morte de seu filho rebelde Absalão, ele o chorou, e a vitória se transformou em luto (2Sm 18-19). Se Deus é o defensor dos fracos, como poderão os cristãos apelar para o evangelho sem escolher o lado dos fracos e desprotegidos?

A 2ª leitura apresenta os tessalonicenses como exemplo de fé generosa, na perspectiva do novo encontro com o Senhor ressuscitado (v. 9-10). Este exemplo se transforma para nós em exortação, ao aproximar-se o fim do ano litúrgico, acentuando-se a perspectiva final. “Tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor”. Quantos evangelizadores podem dizer, com a simplicidade de Paulo, que seus “evangelizadores” os imitem para serem imitadores do Senhor?

A oração do dia oferece um pensamento digno de meditação. “Daí-nos amar o que ordenais”. Geralmente, gostaríamos de que ele ordenasse o que amamos. Mas reconhecemos que seu critério é melhor que o nosso.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
(fonte: http://www.franciscanos.org.br/)

Buscando, com Maria, um outro mundo possível


Hoje fazemos memória da Páscoa de Jesus, celebrando Nossa Senhora Aparecida, que em 1930 foi proclamada, pelo Papa Pio XI, a padroeira do Brasil, “para promover o bem espiritual dos fiéis e aumentar cada vez mais a devoção à Imaculada Mãe de Deus”.

Sua imagem colhida por três pescadores, em outubro de 1717, quando lançavam suas redes no rio Paraná, é hoje venerada no Santuário Nacional em Aparecida do Norte por multidões de peregrinos e peregrinas de todas as partes do Brasil.

Toda liturgia de hoje é marcada pelo pedido de intercessão a Maria, padroeira de nossa Pátria, junto de Deus. Ao pedirmos bênçãos para a Pátria, nos dispomos também a sermos instrumentos daquilo que pedimos, no empenho incansável por uma Nação melhor, mais justa, mais fraterna e feliz, mais conforme o projeto de Jesus.

Lembremos também hoje todas as crianças, na comemoração de seu dia, e do início da resistência indígena na América Latina, com a chegada da expedição de Cristóvão Colombo.
Neste momento atual, no Brasil e no mundo afora se assiste atordoado o sobe e desce das bolsas de valores em todos os países, em especial, nos Estados Unidos e no velho continente. São números, alta do dólar, queda nas transações. Enfim, a bola da vez se chama "crise".

Mas o que seria essa crise? O sociólogo português Boaventura de Souza Santos chama-nos atenção para olharmos essa crise numa perspectiva da ampliação do Estado e, talvez, a minimização do mercado total.

Até pouco tempo atrás, o deus "mercado" evangelizava o mundo e as consciências afirmando as teses de Hayek e Friedman: "menos Estado, mais mercado". Agora, a crise do sistema financeiro derruba o dogma da imaculada concepção do livre mercado como única panacéia para o bom andamento da economia.

Tudo se resumia ao consumo que se tornava uma espécie de "prece" e ato religioso realizado pelo fiel ao deus mercado que tudo criava e recriava. Quem participava do mercado já se encontrava no paraíso, "onde corre leite e mel" das compras em shoppings ou em novas ágoras fast-food (Macdonald’s) onde somente os que podem pagar, podem comer o banquete sagrado e antinutritivo. Diante disso, não há necessidade de política, de participação, de Estado e, muito menos, se pensar no futuro da Casa Comum.

O evangelho de hoje também nos fala de uma crise durante uma festa de casamento. O vinho veio a faltar... Maria ocupa um lugar central na solução desta crise. Nela se manifesta o povo simples e pobre. Maria de Nazaré surge como intermediária entre a realidade dos pobres e Jesus como Messias.
Maria é a mãe que se põe a serviço do Reino. Maria é símbolo dessa humanidade que realiza o projeto de Deus e faz o “que Jesus mandou”.

O programa Bolsa Fartura de Bush reúne quantia suficiente para erradicar a fome no mundo. Mas quem se preocupa com os pobres? Devido ao aumento dos preços dos alimentos, nos últimos dozes meses o número de famintos crônicos subiu de 854 milhões para 950 milhões, segundo Jacques Diouf, diretor-geral da FAO.

Não se mede o fracasso do capitalismo por suas crises financeiras, e sim pela exclusão - de acesso a bens essenciais de consumo e direitos de cidadania, como alimentação, saúde e educação -, de 2/3 da humanidade. São 4 bilhões de pessoas que, segundo a ONU, vivem entre a miséria e a pobreza, com renda diária inferior a US$ 3.

Há, sim, que buscar com Maria, com urgência, um outro mundo possível, economicamente justo, politicamente democrático e ecologicamente sustentável.

O milagre depende de nós!

Lembrando Maria, Aparecida na rede de pobres pescadores e trazendo a cor negra, bendizemos o Senhor da Vida e sua predileção pelos pequenos e sofredores.

Unimos nossa voz ao clamor de todo o povo pobre, peregrino em busca de melhores condições de vida, força e alento para vencer suas dificuldades. Que o Senhor renove nosso desejo de optar sempre e, em primeiro lugar, pela vida.

Fazendo o que ele nos mandou, com Maria participamos do banquete da vida pela palavra e pela Eucaristia. Saboreamos do vinho novo que nos alegra, nos torna atentos às necessidades dos outros e nos encoraja na luta para que não falte a alegria na festa da vida, sobretudo para as crianças, os povos afro-descendentes e todos os carentes.

“Contemplando hoje Maria, Mãe do Senhor, primeira evangelizada e primeira evangelizadora, invocada no Brasil com o título de Aparecida, ícone da Igreja em missão, sejamos inspirados com seu exemplo de fidelidade e disponibilidade incondicional ao Reino de Deus” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, n. 216). Que assim seja. Amém.
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Diácono Wolfgang Müller
Graduado em Teologia (fonte: www. homilia.com.br)

Fontes que ajudaram a escrever esta homilia:
• Crise do evangelho neoliberal, artigo de Claudemiro Godoy do Nascimento
• O abalo dos muros, artigo de Frei Betto
• Ele está no meio de nós, livrinho da CNBB, textos de Maria de Lourdes Zavarez e Maria do Carmo

A vinha de Deus

Um dos textos mais populares da literatura profética era o Cântico da Vinha, alegoria do profeta Isaías sobre a ingratidão da vinha escolhida por Deus, rodeada por ele com todos os cuidados possíveis e que, contudo, não produziu frutos. A vinha é Israel que, em vez de produzir a justiça - o bem que Deus deseja para todos -, institucionalizou o derramamento de sangue e a opressão.

Esta é a 1ª leitura de hoje. Faz pensar na América Latina: era um continente paradisíaco (até hoje alguma coisa disso sobrou); foi dado aos cristãos da Europa, incentivados por indulgências e privilégios pontifícios para “propagar a fé”... Mas o fruto foi a violência institucionalizada.

Se alguém achar essa exegese atualizada demais, olhemos para a exegese atualizada do Cântico da Vinha que Jesus propõe (evangelho). Jesus não acusa a vinha, como Isaías, mas aos agricultores. Se o “senhor da vinha” nunca viu os frutos, não é porque a vinha não os produzia, mas porque os arrendatários os desviavam...

Inclusive, maltratavam os emissários que o dono mandava (os profetas), e quando mandou seu próprio filho, o herdeiro, quiseram assegurar para si a herança da vinha, matando o herdeiro. Jesus, enviado junto ao povo de Israel para reclamar frutos de justiça, foi “jogado fora da vinha” (o Calvário, fora dos muros de Jerusalém) e morto.

O resultado foi que a vinha lhes foi tirada e confiada a quem entregasse a produção: os pagãos, que acolheram a pregação dos apóstolos antes dos judeus. E o texto acrescenta que isso realizou uma lógica que já estava nas Escrituras: a pedra jogada fora pelos construtores tornou-se pedra angular do edifício (SI 118 [117],22s). Esta é a lógica da morte e ressurreição de Jesus, na qual está fundado o novo povo de Deus (cf. At 2,33; 1Pd 2,7).

Assim, esta parábola contém duas lições:

1) Deus esperava justiça de Israel, mas precisou colocar novos administradores para colher o fruto de sua vinha. Ora, o “fruto de justiça” é a fé que atua na caridade, pois justiça é aquilo que é conforme à vontade de Deus, e esta é, antes de tudo, que escutemos Jesus e ponhamos em prática o que ele ensina (cf. Mt 17,5 e par.). O “fruto da justiça” inclui tudo o que a obediência à palavra de Cristo produz: amor sem fingimento, fraterna união, mútua doação etc.

2) A grandeza da obra de Deus: não há mal que por bem não venha. A rejeição de Cristo foi a prova da injustiça dos arrendatários, a abolição de seus privilégios, a transferência da vinha para os gentios que se converteram e produziram fruto: a Ressurreição do Cristo num povo novo.

Não leiamos esta parábola com olhos triunfalistas, considerando-nos os “bons”. A história se repete. A Nova Aliança, em que o antigo povo de Deus, ingrato, abre o lugar para o novo povo universal de Deus, é uma realidade escatológica, isto é, já iniciada, mas ainda não definitivamente estabelecida. Em outros termos, a qualquer momento podemos cair fora! Quando nos apropriamos dos frutos, fazendo do povo de Deus nosso negócio (pense na cristandade que sangrou a América Latina...), então, já não somos administradores da vinha. Para entender bem o evangelho de Mt, devemos sempre pensar que os fariseus somos nós mesmos! E seremos o novo povo de Deus, edificado no Cristo ressuscitado, apenas se entregarmos a Deus os frutos da justiça.

A 2ª leitura nos mostra o que são os frutos de justiça: tudo quanto for verdadeiro, nobre, reto, puro, amável, honrado, tudo o que for virtuoso e digno de louvor... Paulo não oferece um elenco de boas ações, de coisinhas para fazer. Ele tem confiança na consciência do bem que Deus nos deu. Sejamos gente, em nome de Cristo Jesus: então produziremos frutos de justiça! E o Deus da Paz (o dom messiânico por excelência) estará conosco.

A liturgia eucarística é marcada pela idéia da unidade de novo povo de Deus (sobretudo canto da comunhão, opção II). Na mesma linha, pode-se rezar o prefácio dos domingos do tempo comum VIII. A oração final expressa o fundamento desta trindade: a Eucaristia nos deve transformar naquele que recebemos. Recorrendo aos sinais eucarísticos, podemos dizer: somos o corpo de Cristo, a vinha do Pai.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

fonte: www.franciscanos.org.br

Cruz Peregrina de São Damião no Valongo

Jornal da Tribuna 1ª. Edição Dia 26 de setembro de 2008
Início das comemorações da visita da
CRUZ PEREGRINA DE SÃO DAMIÃO NO VALONGO
(clique aqui para ver a programação)

O reino de Deus é de graça?


O evangelho de hoje é “escandaloso”. O patrão sai a contratar diaristas para a safra da uva. Sai de manhã cedo, às nove, ao meio-dia, às três da tarde, e ainda uma vez às cinco da tarde. Na hora do pagamento, começa pelos últimos contratados, paga-lhes a diária completa; e depois, paga a mesma quantia aos que passaram o dia todo no serviço... Será justo que alguém que trabalhou apenas uma hora pode ganhar tanto quanto o que trabalhou o dia inteiro?

Alguém que viveu uma vida irregular, mas se converte na última hora, pode entrar no céu igual aos piedosos? Aos que se escandalizam com isso, o “senhor”responde: “Estás com inveja porque eu estou sendo bom?” Quando Deus usa da mesma bondade para com os que pouco fizeram e para com os que labutaram o dia todo, ele não está sendo injusto, mas bom.

Já no Antigo Testamento, Deus se defende contra a acusação de injustiça por perdoar ao pecador (1ª leitura). Deus não pensa como a gente. Nós raciocinamos em termos de discriminação; Deus, em termos de comunhão. Nós pensamos em economia material, Deus segue a economia da salvação. Sua graça é infinita; ninguém a merece propriamente, e todos podem participar, por graça, se estão em comunhão com ele. Nós, facilmente achamos que os outros não fazem o suficiente para participar do Reino; não se engajam, não se esforçam... Mas quem faz o suficiente?

O que importa não é o quanto fazemos: será sempre insuficiente! Importa que queiramos participar, ainda que tarde. E uma vez que está participando, a gente faz tudo...

O dom de Deus não pode ser merecido; é graça. Claro, quem trabalha na vinha do Senhor, se esforça. Mas esse esforço não é para “merecer”, mas por gratidão e alegria, por termos sido convidados, ainda que tarde – pois, em relação ao antigo Israel, nós “pagãos” somos os da undécima hora... Nosso empenho não é trabalho forçado, mas participação.

Não somos movidos pelo moralismo, mas pela graça. Se entendermos bem isso, valorizaremos mais aquela humilde, mas autêntica boa vontade daqueles que sempre foram marginalizados, na Igreja e na sociedade, e que agora começam a participar mais plenamente: a Igreja dos pobres.

Então, tem ainda sentido falar em “merecer o céu”? Estritamente falando, é impossível. O céu não se paga. Mas se essa expressão significa nossa busca de estar em comunhão com Deus e viver em amizade com ele, tem sentido. Inclusive, essa busca já é o começo do céu.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/

A Igreja,comunidade de salvação





O profeta é o homem que enxerga, melhor que os outros, a vontade de Deus. O profeta olha para o lado interior das coisas. É uma sentinela, deve dar alerta ao enxergar algo suspeito. Sua visão é uma responsabilidade. Se vê o errado, mas fica calado, ele deixa seu irmão perder-se e perde-se com ele. Mas se transmite o recado, a responsabilidade está com o outro, e o profeta se salva (Ez 33,7-9; 1ª leitura).

A Igreja é um povo profético. A partir de nossa unção batismal e crismal, todos nós participamos da vocação profética do Cristo, legada à Igreja. No Sermão Eclesial de Mt 18 (evangelho) aparece também nossa tarefa de sermos sentinelas. A cada suspeita, devemos dar alerta, advertir o irmão que não está no caminho certo. E isso, não uma só vez: devemos esgotar todos os meios. Avisá-lo uma segunda vez, diante de testemunhas (para ver se não estamos enganados), ou, enfim, recorrer ao testemunho da comunidade. Se então ainda não quiser ouvir, seja “como gentio ou publicano”, expressão judaica tradicional designando quem não cabe na assembléia.

Nesta altura, o poder de ligar e desligar, antes confiado representativamente a Pedro (cf. 21° dom. comum), é confiado à Igreja toda. Pois toda ela é responsável pelo caminho da salvação de todos. Todos nós devemos fazer o que for preciso para encaminhar nossos irmãos no caminho certo.

Mt 18 mostra a importância da comunidade eclesial. Esta aparece ainda na palavra de Jesus sobre a oração comunitária (Mt 18,19s): quando estamos reunidos no nome de Jesus e unânimes dirigimos nossos pedidos a Deus, ele nos atenderá como se fôssemos Jesus mesmo: pois Jesus está no nosso meio.

Nós realizamos Jesus, em nossa comunhão. A Igreja se apresenta, na liturgia de hoje, como comunidade de salvação, no sentido sacramental: ela representa, torna presente o Salvador que nos une com Deus.Como? Pela comunhão eclesial! A missão de Cristo era, fundamentalmente, realizar a comunhão de todos os que são filhos do mesmo Pai, realizar o amor do Pai no meio de nós. Onde nós, em comunhão fraterna, realizamos isso, aí realizamos o próprio Cristo.

A verdadeira comunidade eclesial é o sacramento de Cristo e de Deus. Portanto, o texto do evangelho de hoje não se deve entender num sentido jurídico, mas num sentido eclesial, comunitário e, assim, verdadeiramente místico. Por exemplo, com relação à correção fraterna, Jesus não quer dizer que basta chamar duas testemunhas e depois uma comissão eclesiástica toda esclerosada, para enfim excomungar o acusado (pois é muito provável que não se converterá à vista de tal comissão).

Jesus nos ensina a colocar, profeticamente, os que erram diante da comunidade que brotou do amor de Cristo. Então, se mesmo diante deste testemunho a palavra profética não “pega”, também não podemos fazer mais nada.

Na 2ª leitura ouvimos como Paulo, nas suas exortações finais aos romanos, resume a prática da vida cristã: não ficar devendo nada aos outros, senão a caridade, que sempre fica em dívida (o que não significa que não precisamos fazer o possível...).

A caridade é o resumo de tudo. Se nos esforçamos por ela, saldamos automaticamente todas as outras obrigações. “O amor é o pleno cumprimento da Lei” (Rm 13,8-10). Paulo comenta aqui, à sua maneira, uma palavra do Senhor Jesus (cf. Mt 22,34ss = Mc l2,28ss = Lc 10,25ss; cf. Gl 5,14).

E sendo poucas as palavras de Jesus que Paulo cita assim, isso significa que ele a considera como algo central na mensagem cristã. Também S. Tiago a cita, na sua carta (Tg 2,8). E S. João não faz outra coisa senão comentar este “preceito único” do amor ao próximo, pois ninguém pode amar Deus sem amar o próximo (1Jo 4,20!), e só se ama bem ao próximo quando se ama a Deus. Pois amar Deus, procurar Deus, significa procurar a ultima palavra sobre o que é certo e errado, escutando a voz absoluta daquele que ama o nosso irmão como nós o deveríamos amar também.

Assim, o espírito da liturgia de hoje evidencia a comunhão e a caridade fraterna na comunidade eclesial, não só na mútua amizade (cf. oração sobre as oferendas), mas também na oração (evangelho) e na caridosa advertência (1ª leitura, salmo responsorial, evangelho). Nisto, a Igreja realiza a união com Cristo para sempre (oração final)e se torna comunidade e sacramento de Salvação.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora VozesFonte: http://www.franciscanos.org.br/

"Francisco, homem todo evangélico"

SETEMBRO, MÊS DA BÍBLIA


Francisco, Homo totus Evangelicus

Francisco entrou na intimidade do Evangelho e percebeu-o puro e sem retoques. Por isso, a Igreja o chamará de Homo totus Evangelicus, quer dizer, que "se evangelizou" na totalidade do ser e na radicalidade das exigências. E mostrou, ao mesmo tempo, que o Evangelho, no seu todo, é algo possível de ser traduzido em vida.

O próprio Papa, Inocêndo III, observara que a norma de vida da primitiva comunidade era por demais árdua para compor um programa de vida, mas a tempo foi advertido que não poderia declará-la impossível, pois declararia impossível o Evangelho de Cristo.

Para Francisco a afirmação do Papa significava a impossibilidade de seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois vinham eles retraçados, concretamente, nas páginas do Evangelho.

Esta concreteza com que percebia o Evangelho fazia com que Francisco a ele recorresse com a simplicidade e a confiança de quem recorre a um "diretor espiritual".

Com naturalidade, colocava os livros dos Evangelhos à sua frente e os abria, a esmo, encontrando exatamente a Palavra que lhe servia de resposta. Não argumentava, não discutia, não duvidava. Deus acabara de lhe falar. E feliz partia para executar as ordens que acabara de ler.

Assim fala Celano, na vida I (n° 92-93): que abrindo o Evangelho, pôs-se de joelhos e pediu a Deus que lhe revelasse qual a sua vontade. "Levantando-se, fez o sinal da cruz, tomou o livro do altar e o abriu com reverência e temor.

A primeira coisa que deparou, ao abrir o livro, foi a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, no ponto em que anunciava as tribulações por que haveria de passar. Mas, para que ninguém pudesse suspeitar de que isso tivesse acontecido por acaso, abriu o livro mais duas vezes e o resultado foi o mesmo. Compreendeu, então, aquele homem cheio do espírito de Deus, que deveria entrar no reino de Deus depois de passar por muitas tribulações, muitas angústias e muitas lutas..."

Texto de Frei Hugo Baggio (extraído do livro "São Francisco Vida e Ideal, da Editora Vozes)(fonte: http://www.franciscanos.org.br/)

VOCÊ TEM UMA MÃE NO CÉU - Lc 1, 39-56


A festa da Assunção de Maria, a Mãe de Jesus Cristo, dia 15 de agosto, não sendo mais feriado nacional aqui no Brasil, passou a ser comemorada no Domingo seguinte.
A Igreja celebra neste dia o Mistério Pascal vivido em Maria - nascimento, paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Maria, a “cheia de graça” (v. 28), sem sombra alguma de pecado, pelo privilégio incomparável de ser a Mãe do Filho de Deus, o Salvador da Humanidade, a serva perfeita do Senhor, foi pelo Pai glorificada em corpo e alma na sua assunção ao céu.
“Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo!” (v. 28), saúda o anjo Gabriel, enviado por Deus. “Encontraste graça diante de Deus” (v. 30), que significa: “tu que foste e permaneces repleta do favor divino”, preservada de qualquer mancha de pecado e isenta da maldição divina que diz: “tu és pó e em pó te tornarás” (Gn 3,19).
Maria é a mensageira da Salvação: “É a serva do Senhor” (v. 38). Ela vai, apressadamente, ao encontro de sua prima Isabel, grávida de seis meses, que, iluminada pelo Espírito Santo, desvela o segredo de Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (v. 42). Maria é abençoada com a plenitude de todas as bênçãos divinas porque dela nascerá o Salvador.
No cântico do Magnificat, Maria transmite suas mensagens aos homens: “Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador. De agora em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em mim. Santo é seu Nome” (v. 46 e 49).
Maria, em cujo seio foi concebido o Filho de Deus, está no centro da História da Salvação. A Santíssima Virgem e seu Filho eram uma só vida, “tinham um só coração e uma só alma”. Maria foi a Mãe mais amante e a mais amada que existiu. Mãe única de Filho único. Eles têm um nome que está acima de todo nome em matéria de amor.
Maria, no Calvário, ao pé da cruz, participou intimamente da vitória de Cristo sobre o demônio e do triunfo sobre o pecado e a morte. E foi nesse derradeiro momento que Cristo, na pessoa de João, nos deu Maria por Mãe (Jo 19, 26-27). Assim, Maria, pela sua maternidade divina, está unida a Cristo, tanto na vitória sobre a morte, como pela sua ressurreição, antecipada, e assunção ao Céu.
* “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre, Jesus” (v. 28 e 42). Ajuda-me, Mãe, a ser dócil, humilde e obediente ao Senhor. AMÉM. ASSIM SEJA.
* * *
Para questionar:
Vejo em Maria uma Mãe que intercede por mim no Céu?
Procuro ter, como Maria, muito amor a Jesus?
Rezo o terço, contemplando a participação de Maria no plano da Salvação?
Glorifico a Deus por todas as graças que ele me concede?
Como Maria, vivo o amor fraterno? Ajudo meu irmão?
Creio que não basta ter uma piedade a Maria, mas devo ter uma piedade como Maria?
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Autoria: Frei Floriano Surian, ofm e Maria Arieta, ofs
Fonte: www.franciscanos.org.br

ORAÇÃO PELOS SACERDOTES

Senhor Jesus Cristo que, para testemunhar-nos o vosso amor infinito, instituístes o sacerdócio católico, a fim de permanecerdes entre nós, pelo ministério dos padres, enviai-nos santos sacerdotes.

Nós vos pedimos por aqueles que estão conosco, à frente da nossa comunidade, especialmente para o pároco da nossa paróquia.

Pedimos pelos missionários que andam pelo mundo, enfrentando cansaço, perigos e dificuldades, para anunciar a Palavra da Salvação.

Pedimos pelos que se dedicam ao serviço da caridade, cuidando das crianças, dos doentes, dos idosos e de todos os que sofrem e estão desamparados.

Pedimos por todos aqueles que estão a serviço do vosso Reino de justiça, de amor e de paz, seja ensinando, abençoando ou administrando os sacramentos da salvação.

Amparai e confortai, Senhor, aqueles que estão cansados e desanimados, que sofrem injustiças e perseguições pelo vosso nome ou que se sentem angustiados diante dos problemas.

Fazei que todos sintam a presença do vosso amor e a força da vossa Providência. Amém.

Obrigado, Frei André, Frei Félix e Frei Miro pelo vosso sacerdócio. Comunidade do Valongo.

"O Reino de Deus é..."

Concluímos, neste próximo Domingo(27/7), a leitura do capítulo dedicado às “parábolas do Reino” (cf. Mt 13). Nele, recorrendo a imagens e comparações simples, sugestivas e questionantes (“parábolas”), Jesus apresenta esse mundo novo de liberdade e de vida nova que Ele veio propor aos homens e ao qual Ele chamava Reino de Deus.

Concretamente, o nosso texto apresenta-nos três parábolas que são exclusivas de Mateus (nenhuma delas aparece nos outros três evangelhos considerados canónicos. No entanto, as três aparecem num texto não canónico – o Evangelho de Tomé – embora aí apresentem notáveis variantes em relação à versão mateana): a parábola do tesouro, a parábola da pérola e a parábola da rede e dos peixes.

Para enquadrarmos melhor a mensagem aqui proposta por Mateus, devemos ter em conta a realidade da comunidade a quem o Evangelho se destina… Estamos no final do primeiro século (anos oitenta).

Passaram-se mais de trinta anos após a morte de Jesus. O entusiasmo inicial deu lugar à monotonia, à falta de empenho, a uma vivência “morna”, pouco exigente e pouco comprometida. No horizonte próximo das comunidades cristãs perfilam-se tempos difíceis de perseguição e de hostilidade e os cristãos parecem pouco preparados para enfrentar as dificuldades.

Mateus sente que é preciso renovar o compromisso cristão e chamar a atenção dos crentes para o Reino, para as suas exigências e para os seus valores. As parábolas do Reino que hoje nos são propostas devem ser lidas neste contexto.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho - Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
(fonte:
http://www.agencia.ecclesia.pt)

Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai!

Em sua pregação aos camponeses da Palestina, na linguagem campestre deles, Jesus aborda hoje o tema da condenação (evangelho). Já vimos, no domingo passado, que ninguém conhece a profundeza do pensamento de Deus. Incredulidade não significa necessariamente perdição. Como ainda muitos “bons cristãos” hoje, também os antigos judeus se admiravam de que Deus deixasse coexistir fé e incredulidade, justos e injustos. Mas Deus não precisa prestar contas a ninguém. Sua grandeza, ele a mostra julgando com benignidade, pois ele tem suficiente poder; Deus não é escravo de sua própria força (Sb 12,18; 1ª leitura)!

O salmo responsorial (Sl 86[85]), aparentado à revelação de Deus a Moisés em Ex 34,5-6, acentua o tema da magnanimidade de Deus.
Contrariando nossa impaciência e intolerância, Deus aguarda que talvez o injusto ainda se converta (12,19; cf. Lc 13,6-9). Sobre este tema Jesus bordou uma de suas mais eloqüentes parábolas: quando num campo se encontra joio no meio do trigo, é muito imprudente extirpar apressadamente o joio, pois se poderia arrancar também o trigo. Melhor é ter paciência, deixar tudo amadurecer e, no fim, conservar o que serve e queimar a cizânia.

Deus é tão grande, que no seu Reino tem espaço até para a paciência com os incrédulos e injustos. Ele é quem julga.
A essa parábola são encadeadas algumas outras, de semelhante inspiração campestre (Mt 13,31-33), bem como uma consideração sobre a “pedagogia” das parábolas. Depois, Jesus explica a parábola do joio. As parábolas intermediárias (do grão de mostarda e do fermento) referem-se ao incrível crescimento do Reino de Deus.

Há, porém, diferenças no acento. Na parábola do grão de mostarda, o enorme crescimento do Reino, incomparável com seu humilde início, dá uma impressão de amplidão, de expansão, de espaço; na parábola do fermento, é a força interior que é acentuada: um pouco de fermento dá gosto ao todo.

Nos v. 34-35, o evangelista faz uma observação sobre a pedagogia de Jesus. Ele não fala por meio de parábolas para confundir o povo, mas sua pregação confunde, de fato, os que acham que sabem tudo (cf. Mt 13,12-15; dom. pass.). Ora, para quem quiser escutar, cumpre-se, nesta pedagogia de Jesus, o que o salmista já anunciara há muito tempo: a revelação das coisas escondidas desde a formação do mundo.

O tema principal para hoje é, pois, a grandeza de Deus, que tem lugar para todos, inclusive os pecadores, até o momento em que eles terão de decidir se aceitam a sua graça, sim ou não. Isso nos ensina também algo sobre o pecado: com o tempo, o pecado se transforma, ou em arrependimento, ou em orgulho “infernal”, ao qual cabe o destino que finalmente é dado ao joio.
E como viver num mundo onde coexistem fé e incredulidade, justiça e pecado (muitas vezes, dentro da mesma pessoa, dentro da Igreja também)? Como aceitar pessoas, sem aceitar seu pecado nem a estrutura pecaminosa de nosso mundo? São perguntas candentes, que podem ser meditadas à luz da paciência, não tanto “histórica”, mas antes escatológica, de Deus.

A 2ª leitura nos ensina algo fundamental sobre a “espiritualidade”. Para muita gente, espiritualidade é uma espécie de conquista de si mesmo, um treinamento, uma ascese – tanto que, antigamente, “ascese e espiritualidade” eram estudadas no mesmo tratado. Ora, espiritualidade cristã existe quando o Espírito do Cristo vive em nós, toma conta de nós. Isso nada tem a ver com ascetismo, uma vez que o Espírito adota até a nossa fraqueza. Nós nem sabemos rezar como convém, mas “o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26). Portanto, o importante é deixar-se envolver por esse Espírito e não expulsá-lo pela auto-suficiência de nosso próprio espírito. O Espírito do Cristo é que consegue dar conta da nossa fraqueza; o nosso, dificilmente...
Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
(fonte: http://www.franciscanos.org.br/)