Reflexões sobre a Paixão e Páscoa

Abaixo, neste blog, vocês encontrarão reflexões de dois teólogos respeitadíssimos, a respeito da Paixão e Páscoa, sob perspectivas diferentes das que geralmente encontramos.


De Leonardo Boff temos a "Páscoa da Terra Crucificada" e de Maria Clara Bingemer: "Compaixão e comunhão: duas chaves para ler o mistério da PAIXÃO DE JESUS".

Os textos são um pouco longos mas vale o esforço de ler.

Uma Santa Páscoa. Equipe do Blog do Santuário.

A Páscoa da Terra Crucificada

A páscoa é uma festa comum a judeus e a cristãos e encerra uma metáfora da atual situação da Terra, nossa devastada morada comum. Etimologicamente, páscoa significa passagem da escravidão para a liberdade e da morte para a vida.

O Planeta como um todo está passando por uma severa páscoa. Estamos dentro de um processo acelerado de perda: de ar, de solos, de água, de florestas, de gelos, de oceanos, de biodiversidade e de sustentabilidade do próprio sistema-Terra.

Assistimos estarrecidos aos terremotos no Haiti e no Chile, seguidos de tsunamis. Como se relaciona tudo isso com a Terra? Quando as perdas vão parar? Ou para onde nos poderão conduzir? Podemos esperar como na Páscoa que após a sexta-feira santa de paixão e morte, irrompe sempre nova vida e ressurreição?

Precisamos de uma olhar retrospectivo sobre a história da Terra para lançarmos alguma luz sobre a crise atual. Antes de mais nada, cumpre reconhecer que terremotos e devastações são recorrentes na história geológica do Planeta.

Existe uma "taxa de extinção de fundo" que ocorre no processo normal da evolução. Espécies existem por milhões e milhões de anos e depois desparecem. É como um indivíduo que nasce, vive por algum tempo e morre. A extinção é o destino dos indivíduos e das espécies, também da nossa.

Mas além deste processo natural, existem as extinções em massa. A Terra, segundo geólogos, teria passado por 15 grandes extinções desta natureza. Duas foram especialmente graves.

A primeira ocorrida há 245 milhões de anos por ocasião da ruptura de Pangeia, aquela continente único que se fragmentou e deu origem aos atuais continentes. O evento foi tão devastador que teria dizimado entre 75-95% das espécies de vida então existentes. Por debaixo dos continentes continuam ativas as placas tectônicas, se chocando umas com as outras, se sobrepondo ou se afastando, movimento chamado de deriva continental, responsável pelos terremotos.

A segunda ocorreu há 65 milhões de anos, causada por alterações climáticas, subida do nível do mar e aquecimento, eventos provocados por um asteróide de 9,6 km caído na América Central. Provocou incêndios infernais, maremotos, gases venenosos e longo obscurecimento do sol.

Os dinossauros que por 133 milhões de anos dominavam, soberanos, sobre a Terra, desapareceram totalmente bem como 50% das espécies vivas. A Terra precisou de dez milhões de anos para se refazer totalmente. Mas permitiu uma radiação de biodiversidade como jamais antes na história.

O nosso ancestral que vivia na copa das árvores, se alimentando de flores, tremendo de medo dos dinossauros, pôde descer à terra e fazer seu percurso que culminou no que somos hoje.

Cientistas (Ward, Ehrlich, Lovelock, Myers e outros) sustentam que está em curso um outra grande extinção que se iniciou há uns 2,5 milhões e anos quando extensas geleiras começaram a cobrir parte do Planeta, alterando os climas e os níveis do mar.

Ela se acelerou enormemente com o surgimento de um verdadeiro meteoro rasante que é o ser humano através de sua sistemática intervenção no sistema-Terra, particularmente nos último s séculos.

Peter Ward (O fim da evolução, 1977, p.268) refere que esta extinção em massa se nota claramente no Brasil que nos últimos 35 anos está extinguindo definitivamente quatro espécies por dia. E termina advertindo:"um gigantesco desastre ecológico nos aguarda".

O que nos causa crise de sentido é a existência dos terremotos que destroem tudo e dizimam milhares de pessoas como no Haiti e no Chile. E aqui humildemente temos que aceitar a Terra assim como é, ora mãe generosa, ora madrasta cruel. Ela segue mecanismos cegos de suas forças geológicas. Ela nos ignora, por isso os tsunamis e cataclismos são aterradoras. Mas ela nos passa informações.

Nossa missão de seres inteligentes é descodificá-las para evitar danos ou usá-las em nosso benefício. Os animais captam tais informações e antes de um tsunami fogem para lugares altos. Talvez nós outrora, sabíamos captá-las e nos defendíamos. Hoje perdemos esta capacidade. Mas para suprir nossa insuficiência, está ai a ciência. Ela pode descodificar as informações que previamente a Terra nos passa e nos sugerir estratégias de autodefesa e salvamento.

Como somos a própria Terra que tem consciência e inteligência, estamos ainda na fase juvenil, com pouco aprendizado. Estamos ingressando na fase adulta, aprendendo melhor como manejar as energias da Terra e do cosmos.

Então a Terra, através de nosso saber, deixará que seus mecanismos sejam destrutivos. Todos vamos ainda crescer, aprender e amadurecer.

A Terra pende da cruz. Temos que tirá-la de lá e ressuscitá-la. Então celebraremos uma páscoa verdadeira, e nos será permitido desejar: feliz Páscoa.

Leonardo Boff
Teólogo

Compaixão e comunhão: duas chaves para ler o mistério da PAIXÃO DE JESUS


Ao aproximar-se a celebração da Páscoa, é de se esperar que o melhor de nossa atenção se volte para o mistério da Paixão de Jesus, na qual a Revelação cristã diz que se revelou nossa salvação definitiva.

No entanto, em nossa cultura de hoje, que valoriza o bem estar, o prazer, o possuir, pode ainda encontrar na contemplação de um Crucificado a chave para entender sua própria vida? Mais ainda: é possível que a Revelação do Deus Todo Poderoso e Criador, que nunca ninguém viu, possa ser visto e contemplado na figura des-figurada co pobre carpinteiro de Nazaré, entregue à justiça dos homens e por ela injustamente condenado, torturado e morto?

Com palavras radicais e impressionantes, o apóstolo Paulo descreve o mistério que o fascinou no caminho de Damasco e que mudou sua vida, convertendo-o de perseguidor em perseguido: o mistério do abaixamento e humilhação do Verbo de Deus até as últimas das conseqüências. Trata-se do famoso hino cristológico que está no 2o. capítulo da Carta aos Filipenses:

" Ele tinha a condição divina
mas não se apegou a sua igualdade com Deus
Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo
assumindo a condição de servo
e tornando-se semelhante aos homens.
Assim, apresentando-se como simples homem,
humilhou-se a si mesmo,
tornando-se obediente até‚ a morte e morte de cruz!"
Fil 2,5-8

Paulo começa, portanto, afirmando que Jesus Cristo é Deus: “Ele tinha a condição divina”. Mas revelou-a a nós, não ofuscando-nos com seu esplendor nem esmagando-nos com seu poder, nem mesmo ou muito menos repartindo ordens ou castigos com sua autoridade. Ele o faz despojando-se da condição divina que é a sua, à qual “não se apegou”. “Esvaziando-se de si mesmo” e assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante a nós.

Qual o sentido de tudo isso? Que sentido tem que um Deus se esvazie de suas prerrogativas e queira ser encontrado a nosso lado, semelhante a nós, em situação de igualdade ou mesmo de inferioridade e humilhação (“humilhou-se a si mesmo tornando-se obediente até a morte de cruz”).

Parece que o primeiro sentido há que encontrá-lo na própria identidade de Deus. O mais profundo desta não é a onipotência, mas a vulnerabilidade. Deus é vulnerável pelo amor que nos tem. Por causa desse amor desce de sua eternidade para dentro de nossa temporalidade histórica. Sujeita-se a nossos tempos, limita-se por nossos espaços, serve-nos ali onde estamos. Encarna-se em nossa carne mortal, nasce de mulher, sujeito à Lei, sem lugar para estar. O Verbo pronunciado desde toda a eternidade tem que aprender a falar, a andar; tem que ser ajudado nas coisas mais simples como qualquer ser humano. Participa em tudo – menos no pecado – de nossa fragilidade de nossa vulnerabilidade. Porque nos ama. Apenas por isso. Livremente e porque assim deseja aproximar-se de sua criatura pecadora.

Uma vez constatado, com estupor, esse mistério, há duas palavras que, ajudando-nos a compreender o sentido do mistério da Paixão de Jesus, ajudam-nos a ver o sentido que deve ter, à luz desse mistério, nossa própria vida humana: compaixão e comunhão.

Somos humanos na medida em que somos capazes de com-paixão. Em uma sociedade de bem estar, em que somos acossados diariamente a consumir, a desfrutar impunemente das benesses e delícias do prazer e do progresso, onde somos instados a prestar atenção apenas nas pessoas que podem trazer-nos algum benefício ou retribuir-nos de alguma forma os serviços que lhes prestamos, a Paixão de Jesus nos ensina a com-padecer. A abrir o coração e colocá-lo ao alcance do sofrimento e da dor humanas. A deixar-nos configurar por ela, afetar por ela, ser tocados por ela. E deixar que ela comande nossos atos e decisões. Com-paixão, padecer com: esse é o segredo da vida vivida em plenitude. Solidarizar-se com o outro naquela situação onde ele ou ela não nos pode retribuir, pois está reduzido apenas a uma dor sem limites e sem redenção, a um sofrimento sem explicações.

Somos humanos na medida em que somos capazes de comunhão. Comungar com o outro, com sua dor e sua alegria, com sua esperança e sua angústia. Não querer ficar apartados ou distantes das situações que estão sendo vividas e sofridas pelo mais humilde e obscuro de todos os nossos semelhantes – isto é comunhão. É a solidariedade levada a suas últimas conseqüências. Tudo que afeta o outro me diz respeito e é meu também. Não só seus triunfos ou seus êxitos. Mas também e sobretudo, seus fracassos, suas solidões, suas incompreensões, sua pobreza. Aquilo pelo qual ninguém o acompanha e que o torna tão repugnante que não pode atrair os olhares nem o interesse de ninguém. Isso é a verdadeira comunhão e só os seres humanos são capazes disso.

A compaixão e a comunhão levaram Jesus de Nazaré a Jerusalém, obediente ao desejo do Pai que desejava resgatar e reunir todos os seus filhos dispersos e perdidos, mostrando seu verdadeiro e amoroso Rosto. A compaixão e a comunhão atraíram sobre ele o ódio do mundo e a violência dos que o condenaram e mataram. A compaixão e a comunhão nos salvaram e nos salvam a todos de uma vida vazia e sem sentido, que aposta em objetos efêmeros e voláteis, que hoje nos atraem e amanhã servem apenas para o lixo e a poluição que ameaça o planeta. A compaixão e a comunhão dão espessura à vida humana que ameaça liquefazer-se neste século XXI que já vai para o final de seu primeiro quartel.

A compaixão e a comunhão nos mostram o verdadeiro rosto do Deus da revelação. Rosto feito de amor e não de ira; de vulnerabilidade e não de distancia; de perdão e não de castigo; de benção e não de maldição. A Igreja e a liturgia nos convidam a seguir Jesus em direção a Jerusalém e a acompanhá-lo na entrega de sua vida. E a fazê-lo com sentimentos de com-paixão e comunhão, para que nossa vida também realize esse êxodo do próprio amor, do egoísmo que nos mata e nos isola em direção ao dom que é a única coisa capaz de realizar-nos como pessoas humanas.

Maria Clara Lucchetti Bingemer
Teóloga

“Hosana ao Filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor" (Mt 21,9)


Estamos iniciando a Semana Santa e celebraremos os mistérios de nossa fé: a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

A Palavra de Deus neste domingo, nos convida a fazer o caminho com Jesus que vai do carregar a Cruz ao Ressuscitar dos mortos. A primeira leitura Is 50,4-7 nos lembra a confiança que o profeta tem em Deus e o quanto é importante afirmar para todo o sempre que Deus não nos abandona.

Chamando-nos pelo nome, Deus nos assiste com sua graça e não permite que sejamos enganados e humilhados. Ele é o nosso defensor.

Ao Iniciarmos a Semana Santa, devemos olhar para a trajetória de Jesus que o levou à cruz. Neste Domingo de Ramos, a liturgia nos apresenta Jesus que entra solenemente em Jerusalém aclamado pelo povo que o chama de Rei, Filho de Davi e grita aos quatro ventos: “Bendito aquele que vem em nome do senhor, hosana nas alturas“.

O Profeta Isaias nos recorda que jamais seremos colocados de lado por Deus que nos orienta, guia e acompanha. “O Senhor Deus é meu Auxiliador,“ (Is 5,7).A Encarnação de Jesus se deu no silencio da casa de Maria. Seu nascimento se deu no despojamento da gruta de Belém.

Sua trajetória da infáncia à vida adulta foi também silenciosa com raros sinais públicos, mas, certamente com muitos sinais de vida plena para o pequeno grupo de Nazaré que com Ele convivia.

Quando chega a hora de manifestar-se ao mundo, não o faz com glória e na euforia. Procura o Batismo de João, programa sua missão e a assume, chamando para seus companheiros, homens simples e desprezados de seu tempo, pescadores, cobradores de impostos e outros mais. Sua vida se deu na humildade, e esta foi a sua marca.

Posicionou-se claramente para mostrar que o Reino de Deus era de Justiça e de verdade, que era dos pequenos e pobres, que era um tesouro encontrado que valia a pena vender tudo, deixar tudo, abandonar tudo para adquirí-lo.

Em momento nenhum apegou-se à condição divina para colocar-se acima dos outros. Em tudo se fez obediente até a morte e morte de cruz. É isso que nos diz a segunda leitura (Fl 2,6-11).“Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens.

“A semana santa nos traz este compromisso e nos convida a esta espiritualidade vivencial: somos homens e mulheres criados por Deus para na humildade, na fraternidade e na firmeza de propósitos contribuirmos com a construção do Reino entre nós.

Também é tempo de sabermos qual a nossa estatura, quem somos e o que podemos. Só não podemos nos esquecer que o caminho do Cristo e de seu Reino o levou à cruz e não nos levará ao aplauso e ao sucesso.

O Cristo incomodou com sua vida a realidade de seu tempo, e, nós não podemos fazer diferente.

A CF nos fez refletir, por exemplo, que há uma outra economia possível, que não podemos dar as mãos a esta economia que exclui muita gente e que tira a oportunidade das pessoas.

Há uma outra a ser construída que deve ser uma Economia de Comunhão, uma Economia Solidária, uma Economia de Inclusão.

As Igrejas escreveram no texto base, que precisamos rever inclusive os nossos próprios acúmulos. Disse também o que vem sendo repetido há décadas, que não se pode ter uma economia que escraviza as pessoas, que as leva ao consumismo, que as desumaniza, que transforma o dinheiro em deus.

“Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Lembremo-nos de Cristo que foi para a Cruz, não porque Deus Pai assim o quisesse (Deus não pode querer a morte de cruz para seu filho, nem a morte das filas dos hospitais, nem a morte da violência no trânsito ou no tráfico, nem a morte por fome, nem a morte por falta de oportunidade).

Deus é Pai! Lembremo-nos disso sempre. “Se nós que somos homens queremos o bem para nossos filhos, imaginem Deus que é Pai e que nos ama!” Jesus morreu na cruz porque incomodou a sociedade de seu tempo e fez disso o caminho para nossa salvação.

Sua cruz é redentora sim porque assim ele a assumiu. Lembremos da moeda a César: “daí a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus.” Esta frase é de incômodo e precisa ser repetida hoje.

O Ser Humano não existe para servir à Economia. Ela, a Economia é que deve estar a serviço da vida. Isso incomoda ainda hoje e o mundo, de modo especial os pobres preferidos de Deus, esperam uma resposta concreta das igrejas.

O Evangelho deste domingo é o da paixão: Mt 27,11-54. Sempre que o tenho à frente dos olhos e do coração, penso que a Cruz pela Cruz não tem o menor sentido, mas, que a Cruz de Jesus é carregada de significados porque é redentora, salvadora, libertadora. Ela não é um acaso. Jesus não foi a ela por engano. Sua vida a construiu. Suas opções o levaram a ela.

Penso então que minha cruz não precisa ser em vão. Penso que a cruz trazida pelo abandono, pela fome, pelo analfabetismo, pela falta de moradia, pela exclusão, pela intolerância, pela falta de fé e de comunhão não é e nem nunca foi desejo de Deus que é um Pai amoroso, e penso que esta cruz pode ser carregada de sentido, de significado, pode ser redentora, salvadora, libertadora.

(fonte: http://www.homilia.com.br/)

PALESTRA SOBRE O TEMA DA CF/2010: "ECONOMIA E VIDA"


O Santuário Santo Antonio do Valongo e a Ordem Franciscana Secular convidam para a palestra que ocorrerá no próximo DOMINGO, (21/03) às 10h00, sobre o tema da CAMPANHA DA FRATERNIDADE deste ano: "ECONOMIA E VIDA", no SALÃO SANTA CLARA, do Santuário (primeira sala subindo a escada).

A palestrante será Marilda Lemos.

Marilda milita nos movimentos populares há vários anos e tem profunda experiência no tema; é Franciscana Secular, Assistente Social, Professora de Teologia, Mestra em Administração e doutoranda em Sociologia, pela USP.

Pai, pequei contra o céu e contra ti...


Evangelho de 14 de março de 2010 (Lc 15, 1-3.11-32)

Temos neste texto de Lucas mais um registro, dentre os inúmeros encontrados nos Evangelhos, do conflito entre os escribas e fariseus, integrantes das elites religiosas do Judaísmo, e Jesus.

Estes chefes religiosos que tinham seu poder garantido a partir da humilhação e dominação dos pequeninos e pobres irritam-se com a prática acolhedora de Jesus.

Sendo censurado por fazer-se acompanhar por publicanos e "pecadores" e comer com eles, Jesus narra duas curtas parábolas sobre a alegria pelo encontro com estes excluídos, e uma terceira sobre o "pai misericordioso".

Nesta encontramos uma plenitude de significado que pode ser considerado o núcleo da mensagem dos Evangelhos. É o pai que respeitou plenamente a liberdade de seu filho, confiante na força do amor que sustenta a vida.

O bem maior, que é a liberdade, tem o amparo do amor misericordioso. Desaparece a imagem do deus poderoso que castiga os que dele se afastam impondo-lhes variados sofrimentos e, se se arrependem, reata a aliança com eles, porém sob ameaças.

Jesus revela o Deus de amor e da reconciliação (cf. segunda leitura), que respeita plenamente a liberdade de seus filhos e está com o coração aberto para acolhê-los a qualquer momento, sem censuras, independentemente de sua história passada.

Prof. Diácono Miguel A. Teodoro

Conversão: caminho para Deus



No evangelho de hoje (07/03/2010) Jesus alerta para a necessidade de conversão que cada pessoa tem, mas nem sempre consegue percebê-la ou admiti-la. É mais fácil olhar os “pecados” dos outros do que reconhecer que nós também nos afastamos de Deus com nossas falhas.

Os galileus que Pilatos havia matado e os dezoito que morreram com a torre de Siloé sobre eles eram considerados pecadores, pois é como se a desgraça acontecida fosse um castigo de Deus.

Jesus nos convida a uma mudança de olhar e de mentalidade. O mal não vem de Deus porque ele é essencialmente bom. No entanto, continuamos a nos colocar no lugar de Deus para julgar as faltas que as pessoas cometem e geralmente as condenamos.

Jesus nos convida a nos colocarmos na direção de Deus, mudando do caminho que nos afasta dele. Um Deus que consideramos todopoderoso poderia exterminar a quem quisesse e a qualquer momento, principalmente os pecadores, porém o nosso Deus é todopoderoso no amor, portanto, está sempre nos dando mais uma chance de voltarmos o nosso coração para Ele para que sejamos como árvores frutíferas.

Ele sempre nos dá um “voto de confiança”, pois acredita em nós porque nos ama primeiro. A conversão é um convite pessoal, assim, a resposta também é pessoal, mas para ser vivida em todas as relações.

Quando lemos a história da vida dos Santos, em grande parte, podemos perceber que por mais que fizessem coisas boas, mas se sentiam imperfeitos e indignos de Deus.

Quem já se acha santo e perfeito certamente deve olhar para dentro de si mesmo e ver que ainda não alcançou a plenitude e que ainda tem muito a caminhar na sua transformação interior, como nos afirma a segunda leitura: “Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair!”.

Hoje nos deparamos com inúmeras situações onde julgamos as pessoas com muita facilidade, principalmente no cotidiano das famílias que não vivem mais segundo nossos critérios (e aqui podemos citar vários exemplos!) e também algumas situações onde o preconceito fala mais alto, por exemplo, quando entra em um ônibus uma pessoa mal vestida ou negra já ficamos apavorados com o medo ser um assaltante.

Precisamos olhar cada pessoa como alguém importante para Deus. Além disso, nos deparamos com inúmeras catástrofes em nosso planeta; algumas provocadas pelo próprio ser humano e outras por fenômenos da natureza.


Talvez já tenhamos feito a pergunta: “Quem é o culpado por todas as mortes acontecidas no Haiti e no Chile devido aos terremotos?”, ou ainda, “Por que Deus permitiu que isso acontecesse?”.

Quando não colocamos a culpa no ser humano por ter se afastado de Deus, culpamos ao próprio Deus por nos ter abandonado. Porém, na primeira leitura temos uma revelação de quem é Deus e de como Ele age em relação ao seu povo: Ele vê a aflição, ouve o clamor, conhece os sofrimentos, desce para libertar das mãos do opressor e os faz sair do Egito enviando Moisés.

Diante de tantas catástrofes e acontecimentos, Deus nos chama hoje e nos envia para mostrarmos o seu grande amor para com o povo através de nossos atos de solidariedade, partilha, escuta, proximidade para com aqueles que mais precisam.

É esta a conversão que ele pede a cada um de nós para que tenhamos um mundo mais fraterno, justo e centrando em Deus.

Ir. Sueli da Cruz Pereira