Maior que a tempestade: “quem é este?”

O evangelho conta a história da tempestade acalmada. Imaginemos a cena: a tempestade levantando ondas que cobrem o barco com os discípulos – e Jesus, dormindo... Quando o acordam, Jesus conjura os ventos e o mar, e vem a calmaria.

Jesus censura-lhes a falta de fé, e eles perguntam: “Quem é este, a quem o vento e o mar obedecem?”(Mc 4,41). Aos fiéis presentes na celebração a resposta já foi dada na 1ª leitura (Jó, 38, 1.8-11) e no salmo de meditação que a acompanha (Sl 107 [106]: quem manda na tempestade e no mar é Deus ou aquele que age com seu poder. Jesus se revela através de seu poder soberano, divino. Por isso, ele pode dormir tranqüilo no barco atormentado pelas ondas, como também pode levantar-se para acalmar o mar.

Essa história é muito instrutiva. Em primeiro lugar: a tempestade. Quando tudo está tranqüilo em torno de nós, temos a tendência de confiar em nossas próprias forças, seguros de que “tudo vai dar certo”. E Deus fica sobrando. Mas quando surge uma tempestade, percebemos que nossas forças são pequenas e pouco fidedignas. Então recorremos a Deus, não tanto por amor a ele quanto por amor à nossa pele. Pouco importa. O importante é descobrirmos que nossa vida está nas mãos dele.

Na tempestade, Deus surge com poder (Sl 65[64], 8). Quando de repente nos vemos entregues às contradições da vida e da história, importa lembrarmo-nos daquele a quem o vento e o mar obedecem: não só Deus, mas Jesus de Nazaré, nosso guia. Mas o melhor é nunca o esquecer e tê-lo sempre diante dos olhos. Enquanto não percebemos sua presença e o poder que está nele, temos medo, ainda não temos fé (Mc 4,40).

E que fé é essa? Fé para ter proteção, cura, bem-estar? Claro que a gente espera tudo isso de Deus. Mas isso passa por uma pessoa com nome e sobrenome. Perguntamos: “Quem é este”? Damos crédito a ele, por causa do poder que manifesta. Mas seu gesto maior não é um gesto de poder, e sim, de entrega da própria vida. A fé por causa do poder é apenas um aperitivo para que acreditemos no Crucificado.

A tempestade acalmada vem no início da caminhada de Jesus; no fim, estão a cruz e a ressurreição. Assim, nas aflições da vida, procurando segurança em Deus, encontramos Jesus diante de nós, poderoso, sim, mas isso, em última instância, por meio da cruz, por meio de sua doação por amor. Aí, ele revela o poder maior de Deus em sua pessoa. Reconhecendo isso, teremos confiança para enfrentar as tempestades de nossa história.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
fonte: www.franciscanos.org.br