O profeta do reino de Deus


Jesus é o profeta do Reino de Deus. Mas que é um profeta? ... O profeta é mediador e porta-voz de Deus.

No evangelho, Jesus é apresentado como porta-voz de Deus e de seu Reino.


Deus mostra que está com ele. Dá-lhe poder de fazer sinais: na sinagoga de Cafarnaum, Jesus expulsa um demônio, e o povo reconhece sua autoridade profética: “Um ensinamento novo, dado com autoridade...” (Mc 1,27).

Ora, os sinais milagrosos servem para mostrar a autoridade do profeta, mas não são propriamente sua missão. Servem para mostrar que Deus está com ele, mas sua tarefa não é fazer coisas espantosas. Sua tarefa é ser porta-voz de Deus.

Jesus não veio para fazer milagres, e sim, para nos dizer e mostrar que Deus nos ama e espera que participemos ativamente de seu projeto de amor. Por outro lado, os sinais, embora não sejam sua tarefa propriamente, não deixam de revelar um pouco em que consiste o reino que Jesus anuncia. São sinais da bondade de Deus.

Jesus nunca faz sinais danosos para as pessoas (como as pragas do Egito que aconteceram pela mão de Moisés). O primeiro sinal de Jesus, em Mc, é uma expulsão de demônio. A obsessão demoníaco simboliza o mal que toma conta do ser humano sem que este o queira.

Libertando o endemoninhado do seu mal, Jesus demonstra que o Reino por ele anunciado não é apenas apelo livre à conversão de cada um, mas luta vitoriosa contra o mal que se apresenta maior que a gente.

O mal que é maior que a gente existe também hoje: a crescente desigualdade social, a má distribuição da terra e de seus produtos, a lenta asfixia do ambiente natural por conta das indústrias e da poluição, a vida insalubre dos que têm de menos e dos que têm demais, a corrupção, o terror, o tráfico de drogas, o crime organizado, o esvaziamento moral e espiritual pelo mau uso dos meios de comunicação...

Esses demônios parecem dominar muita gente e fazem muitas vítimas. O sinal profético de Jesus significa a libertação desse mal do mundo, que transcende nossas parcas forças. E sua palavra, proferida com a autoridade de Deus mesmo, nos ensina a realizar essa libertação.

Como Jesus, a Igreja é chamada a apresentar ao mundo a Palavra de Deus e o anúncio de seu Reino. Como confirmação dessa mensagem, deve também demonstrar, em sinais e obras, que o poder de Deus supera o mal: no empenho pela justiça e no alívio do sofrimento, no saneamento da sociedade e na cura do meio ambiente adoentado. Palavra e sinal, eis a missão profética da Igreja hoje.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
(fonte: http://www.franciscanos.org.br/)

"Pescadores de Homens"

Marcos situa rapidamente o contexto em que aparece o programa de Jesus, sintetizado pela primeira declaração do Mestre nesse evangelho. Temos uma vaga indicação de tempo (“Depois que João Batista foi preso”) e de lugar (“Jesus foi para a Galiléia”. O mensageiro de Jesus foi preso.

Marcos dirá mais adiante quais os motivos da prisão do Batista e as razões que o levaram à morte (cf. 6,17ss).

Esse dado é importante. O mensageiro de Jesus mexeu com os interesses e privilégios dos poderosos. O que irá acontecer com Jesus? Aos poucos o evangelho mostrará que Jesus, “o forte” (1,7), não se deixa amedrontar pelos poderosos, vencendo os mecanismos que geram morte para o povo.

A Galiléia é o lugar social onde Jesus inicia sua atividade. Essa região era sinônimo de marginalidade, lugar de gente sem valor e impura. É no meio dessa gente e a partir dela que Jesus anuncia seu programa de vida: “O tempo já se cumpriu e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no evangelho”.

Depois que ressuscitou, o Mestre convida os discípulos a descobri-lo vivo na Galiléia, sinal de que a prática de Jesus em nada difere da dos que o desejam seguir.

O programa de Jesus (v. 15) consta de três momentos.

Em primeiro lugar, ele anuncia que “o tempo já se cumpriu”. A espera da libertação chegou ao fim. Deus está presente em Jesus, atuando seu projeto de liberdade e vida.

O caminho de Deus e o caminho dos marginalizados são uma coisa só. O desejo expresso em Is 63,19 (“Quem dera rasgasses o céu para descer!”) se cumpriu, pois com Jesus o céu se rasgou (cf. Mc 1,10) e o Deus invisível se tornou gente no meio dos empobrecidos. Fez-se pobre como eles.

Em segundo lugar, Jesus anuncia que “o Reino de Deus está próximo”. Deus tomou a decisão de reinar. Por que o Reino de Deus está próximo? Porque a realeza de Deus vai tomando corpo através dos atos libertadores que Jesus realiza ao longo do evangelho.

Está sempre próximo também mediante a prática dos seus discípulos, aos quais confiou a continuação daquilo que anunciou e fez. O Reino é uma realidade dinâmica. Refazendo a prática de Jesus no tempo, as pessoas e as comunidades vão abrindo espaços para que o Reino se torne realidade.

Em terceiro lugar, Jesus diz: “Convertam-se e creiam no evangelho!” Conversão é sinônimo de adesão à prática de Jesus. A libertação esperada, o céu rasgado, de nada adiantariam se as pessoas que anseiam pela libertação continuassem amarradas aos esquemas que mantêm uma sociedade desigual e discriminadora.

O Evangelho de Marcos é apenas o início da Boa Notícia da libertação trazida por Jesus (cf. 1,1). Ela se tornará realidade mediante o compromisso das pessoas e comunidades que dizem sim ao Mestre.

Os versículos do 16 a 20 mostram o sim de algumas pessoas à Boa Notícia trazida por Jesus. A vocação de Simão e André, Tiago e João (bem como a de Levi em 2,13-14) é apenas um sinal do que acontece com todas as pessoas que, em qualquer tempo e lugar, sentem necessidade de mudança na sociedade. Marcos não se preocupou em detalhar a vocação de todos os discípulos (e nisso foi imitado pelos evangelistas que vieram depois dele).

O que acontece com alguns deles serve de medida para os demais. Jesus escolhe pessoas simples e as chama a partir da realidade do dia-a-dia. Simão e André, Tiago e João são trabalhadores que ganham a vida pescando. (Levi está sentado na coletoria de impostos, cf. 2,14.) Não importa se o que fazem é honesto ou desonesto. O apelo é igual para todos, e a resposta é imediata: “Eles deixaram imediatamente as redes e seguiram a Jesus… Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados e partiram, seguindo a Jesus… Levi se levantou e o seguiu” .

O apelo feito a Simão e André vale para todos os discípulos: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens”. A frase de Jesus recorda Jeremias 16,16: Enviarei numerosos pescadores para pescá-los. Aí se fala do julgamento de Javé sobre a sociedade idólatra. A frase recorda também o chamado de Eliseu (cf. 1Rs 19,19-21).

Ser “pescador de homens”, portanto, é ser profeta do Reino à semelhança de Jeremias e Eliseu. Não é possível seguir a Jesus sem um mínimo daquele espírito profético inconformado com a situação vivida pelo povo.

Os que não se conformam e lutam para mudar as situações, provocam o julgamento de Deus na história. São essas as pessoas que Jesus procura
Padre Bantu Mendonça K. Sayla
(fonte: http://www.cancaonova.org.br/)

Escutar Deus e seguir Jesus


Depois da festa do Batismo do Senhor, que no Brasil substitui o 1º domingo do tempo comum, a liturgia dominical continua logo com o 2º. Mesmo sem querer, essa continuação é muito adequada: Jesus, logo depois de ser batizado por João Batista e tentado no deserto, chamou os primeiros discípulos. Segundo Jo, do qual se extrai o evangelho de hoje, foi dentre os discípulos do Batista que surgiram os primeiros seguidores de Jesus. O próprio Batista incentivou dois de seus discípulos a seguir Jesus, “o Cordeiro que tira o pecado do mundo”. Enquanto se põem a segui-lo, procurando seu paradeiro, Jesus mesmo lhes dirige a palavra: “Que procurais?” – “Mestre, onde moras”, respondeu. E Jesus convida: “Vinde e vede”. Descobrir o Mestre e poder ficar com ele tanto os empolga que um dos dois, André, logo vai chamar seu irmão Pedro para entrar nessa companhia também. E no dia seguinte, Filipe (o outro dos dois?) chama Nataniel a integrar o grupo.
A 1ª leitura aproxima disso o que ocorreu, mil anos antes, ao jovem Samuel, “coroinha” do sacerdote Eli no templo de Silo. Deus o estava chamando, mas ele pensava que fosse o sacerdote. Só na terceira vez, o sacerdote lhe ensinou que quem chamava era Deus mesmo. Então respondeu: “Fala, Senhor, teu servo escuta”.
“Vocação” e um diálogo entre Deus e a gente – geralmente por meio de algum intermediário humano. A pessoa não decide por si mesma como vai servir a Deus. Tem de ouvir, escutar, meditar.Que vocação? Para que serviço Deus ou Jesus nos chamam? Logo se pensa em vocação específica para padre ou para a vida religiosa. Mas antes disso existe a vocação cristã geral, a vocação para os diversos caminhos da vida, conduzida pelo Espírito de Deus, e da qual o Cristo é o portador e dispensador. Essa vocação cristã se realiza no casamento, na vida profissional, na política, na cultura etc. Seja qual for o caminho, importa ver se nele seguimos o chamado de Deus e não algum projeto concebido em função de nossos interesses próprios, às vezes contrários aos de Deus.
O convite de Deus pode ser muito discreto. Talvez esteja escondido em algum fato da vida, na palavra de um amigo... ou de um inimigo! Ou simplesmente nos talentos que Deus nos deu. De nossa parte, haja disposição positiva. Importa estar atento. Os discípulos estavam à procura. Quem não procura pode não perceber o discreto chamamento de Deus. A disponibilidade para a vocação mostra-se na atenção e na concentração. Numa vida dispersiva, a vocação não se percebe. E importa também expressar nossa disponibilidade na oração.: “Senhor, onde moras? Fala, Senhor, teu servo escuta”. Sem a vocação não tem vez.
Finalmente, para que a vocação seja “cristã”, é preciso que Cristo esteja no meio. Há os que confundem vocação com dar satisfação aos pais ou alcançar um posto na poderosa e supostamente segura instituição que é a Igreja. Isso não é vocação de Cristo. Para saber se é realmente Cristo que está chamando, precisamos de muito discernimento, para saber distinguir sua voz nas pessoas e nos fatos através dos quais ele fala.
Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

O que batiza com o Espírito Santo


O batismo de Jesus segundo Mc é a investidura do Messias (Cristo) e Filho de Deus. A diferença em relação à missão do João Batista aparece em l,8: o batismo de João situa-se no nível da atitude humana de conversão; o batismo que Jesus trará é a efusão escatológica do Espírito.

João batizando Jesus é mais ou menos como Samuel derramando a unção na cabeça de Davi, rei escolhido por Deus: “A partir daquele momento o Espírito apoderou-se de Davi” (lSm 16,13). No batismo, o Espírito toma posse de Jesus e logo o impele para o deserto (Mc 1,12). Mas há uma diferença em relação a Davi e os profetas: os céus se rasgam, sinal da irrupção de Deus (cf Is 63,l6ss). E a vinda escatológica do Espírito que se realiza em Jesus. Mas essa irrupção é velada: quem vê o céu aberto (em Mc) é só Jesus, e só a ele se dirige a palavra “Tu és meu Filho amado, em ti está o meu agrado” (cf. Is 42,1; 44,2). Para Jesus, a visão do Reino que vem sobre a terra é clara, mas para os outros não. Ao longo de seu evangelho, Mc mostra que com Jesus veio o Reino, mas de um modo diferente do que se esperava. Sua missão messiânica tomará sempre mais a forma do Servo Sofredor .

Na visão de Mc, o batismo de Jesus é o começo do fim, “a inauguração secreta” do tempo messiânico. Só Jesus o sabe, por enquanto. (O segredo do Filho, confiado aqui a Jesus, será revelado aos discípulos prediletos em 9,7 e, no fim do evangelho, o centurião romano o reconhecerá, 15,39.) No querigma cristão, o batismo de Jesus é o início da proclamação de sua obra (cf. At 10,27ss, 1ª leitura).

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Voz

(http://www.franciscanos.org.br/ )

Onde a Estrela parou!


A Epifania marca a fase final do ciclo natalino (historicamente, a festa da Epifania, 6 de janeiro, é a data do Natal no Oriente).

Mas a Igreja ocidental (latina), que celebrava o Natal no dia 25 de dezembro, conservou a data de hoje com o nome de Epifania, tornando-se um sinal de unidade entre a Igreja oriental e a ocidental.

Celebra a manifestação (epifania, em grego) de Deus ao mundo, na figura dos reis magos que, representando o mundo inteiro, vão adorar o menino Jesus em Belém.

A liturgia retoma o tema da luz - luz que brilha não só para o povo oprimido de Israel (como na 1ª leitura da noite de Natal), mas para todos os povos, segundo a visão do profeta universalista que escreveu o fim do livro de Isaías (1ª leitura).

Jerusalém, restaurada depois do exílio babilônico, é vista como o centro para o qual convergem as caravanas do mundo inteiro. Essa visão recebe um sentido pleno quando reis astrólogos do oriente procuram o messias nascido de Davi - nos arredores de Jerusalém, em Belém, cidade de Davi (evangelho).

A 2ª leitura comenta, mediante o texto de Ef 3, 2-6, esse fato como revelação do mistério de Deus também para os pagãos.

Toda a liturgia de hoje é permeada pelo sentido universal da obra de Cristo. Mas para não cairmos no universalismo abstrato e global das grandes declarações internacionais, que nunca chegam até o chão, encontramos aqui, como na festa da Mãe de Deus, a inserção bem concreta de Jesus num ponto “parcial” da humanidade.

Mesmo não sendo a menor das principais cidade de Judá (Mt 2,6), Belém não passa de um povoado que os magos nem sequer encontram no mapa. E, contudo, nesse momento, é o centro do mundo, assim como Ezequiel, por volta de 580 a.C., chama a aparentemente insignificante terra de Israel de “umbigo da terra” (Ez 38,12).

O ponto por onde passa a salvação não precisa ser grandioso.
Belém representa a comunidade-testemunha, não o império oficial do poderoso Herodes. É centro do mundo, não para si mesma, mas para quem procura o agir de Deus.

Não em Roma, nem na Jerusalém de Herodes, mas na Belém do presépio é que a estrela parou. Para mostrar que não depende do poder humano, Deus se manifesta no meio dos pobres, no Jesus pobre.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
(fonte: www.franciscanos.org.br)