CF 2009 – Segurança Pública


A Campanha da Fraternidade de 2009 aborda um dos temas mais preocupantes da atualidade: a segurança pública. Muito se tem falado do contexto social de violência em que vive a sociedade brasileira – e mundial –, no entanto, muito pouco se tem feito de forma a mudar essa realidade.

Temos consciência de que a integridade da pessoa humana é um direito inalienável. Bem sabemos que o Estado deve garantir a segurança pública, mas ao mesmo tempo, cada cidadão deve ter consciência de que segurança se constrói através da mescla de igualdade social e educação.

Somos herdeiros de uma colonização, em sua essência, violenta. As raízes do passado já não são válidas para justificar a falta de segurança. Já se passaram mais de 500 anos desde a colonização.

É, também, importante mudar a idéia de que os interesses pessoais se sobressaiam aos interesses comuns. A indústria do medo deve ser desestruturada e os meios de comunicação, principais agentes de formação social e cultural devem assumir o compromisso de construção de uma paz para todos.

O Antigo Testamento nos mostra que a única fonte de nossa segurança é o próprio Deus. Ele, também, mostra que fomos criados para a comunhão com Deus e com os irmãos, na vivência concreta do amor e somente a partir desse critério poderemos de fato ter segurança. Somente põe a sua confiança no Senhor aquele que faz a Sua vontade.

No Sermão da Montanha, Jesus mostra que devemos quebrar a rede de ódio e vingança que existe na sociedade porque violência gera mais violência.

As primeiras comunidades cristãs testemunhavam a prática da paz fundamentada nos valores evangélicos, principalmente no cuidado com os pequenos e com os necessitados. Mostram que a paz não vem pela força das armas, mas dos relacionamentos, fundamentados no amor, porque Deus é amor e ele é a fonte da verdadeira paz e da concórdia.

Somente a partir dos critérios do Evangelho é que se torna possível pensar verdadeiramente em segurança. Paulo reconhece que o amor é a plenitude da Lei (Rm 13,10), fonte, portanto, de toda segurança a que a humanidade aspira.

Muitas são as dificuldades em relação à segurança, no Brasil. A violência atinge a todos nos lugares mais distantes. As várias formas de violência como: familiar, de rua, escolar, entre outras, aterrorizam famílias inteiras.

A campanha da fraternidade de 2009 propõe como via de mudança a esses hábitos um intensivo em ações educativas, tais como, trabalhar junto com as famílias conscientizando das necessidades de uma boa educação a seus filhos, divulgar e mostrar os objetivos propostos pela campanha nas escolas, campanhas educacionais sobre a violência levando todos a maior responsabilidade com a segurança dos que estão próximos.

Não se deve esperar um resultado milagroso, mas um resultado que aparecerá de acordo com os trabalhos desenvolvidos.

O cartaz da campanha:

O conceito principal da imagem é mostrar que a paz pode ser conseguida em qualquer nível cultural ou econômico e que a cultura é uma forte ferramenta para a conquista da paz e da justiça. A perspectiva da foto tem o objetivo de ilustrar que o acesso à cultura pode trazer mudanças.

Podemos perceber que há lixo jogado, representando uma vida bagunçada e sem sentido. Que é deixada para trás. O jovem da foto é um convite para que se criem condições para a promoção de uma cultura da paz fundamentada na justiça social e iluminada pelo Evangelho e pelos valores cristãos.

Por: Paulinos de BH
http://paulinos.org.br/novo/blog/

O Messias e os marginalizados


A exclusão está na moda, virou princípio de organização socioeconômica: a lei do mercado, da competitividade. Quem não consegue competir, desapareça. Quem não consegue consumir, deve sumir.

Escondemos favelas por trás de paredões ou placares de publicidade. Que os feios, os aleijados, os idosos, os aidéticos não poluam os nossos cartões postais!

Em tempos idos, a exclusão muitas vezes provinha da impotência ou da superstição. Assim, a exclusão dos cegos e coxos do templo de Jerusalém. Ou a marginalização dos leprosos, ilustrada abundantemente em Lv 13-14 (cf. 1ª leitura).

Enquanto não se tivesse constatado a cura por um complicado ritual, o leproso era considerado impuro, intocável. Jesus, porém, toca no leproso – e o cura (evangelho). É um sinal do Reino de Deus. Jesus torna o mundo mais conforme ao sonho de Deus. Pois Deus não deseja sofrimento nem discriminação.

O Antigo Testamento pode não ter encontrado outra solução para esses doentes contagiosos que a marginalização; mas Jesus mostra que um novo tempo começou.

Começou, mas não terminou. Reintegrar os marginalizados não foi uma fase passageira no projeto de Deus, como os benefícios que os políticos realizam nas vésperas das eleições. O plano messiânico continua através do povo messiânico, como se concebe a Igreja.

Devemos continuar inventando, quando pudermos, soluções contra toda e qualquer marginalização. Pois somos todos irmãos e irmãs.

Seremos impotentes para excluir a exclusão, como os antigos israelitas em relação à lepra? Que fazer com os criminosos, viciados no crime?

Será nosso mundo tão bom que possa reintegrar tais pessoas, sem que se enrosquem de novo? O fato de ter de marginalizar alguém é um reconhecimento da não-perfeição de nossa sociedade.

Toda forma de marginalização é uma denúncia contra nossa sociedade, e ao mesmo tempo um desafio.

Isso é muito mais ainda o caso em se tratando de pessoas inocentes. A marginalização é sinal de que não está acontecendo o que Deus deseja. Onde existe marginalização, o Reino de Deus ainda não chegou, pelo menos não completamente. E onde chega o Reino de Deus, a marginalização não deve mais existir.

Por isso, Jesus reintegra os marginalizados, como é o caso do leproso, dos pecadores, dos publicamos, prostitutas.... Essa reintegração está baseada no poder-autoridade que Jesus detém como enviado de Deus: “Se quiseres, tens o poder de me purificar” (Mc 1,40). Jesus passa por cima das prescrições levíticas, toca no leproso e o “purifica” por sua palavra em virtude da autoridade que lhe é conferida como “Filho do Homem” (= “executivo” de Deus, cf. Mc 2, 10.28).

Há quem pense que os mecanismos auto-reguladores do mercado são o fim da história e a realização completa da racionalidade humana. E os que são (e sempre serão) excluídos por esse processo, onde ficam? Não será esse raciocínio o de um varejista que se imagina ser o criador do universo?

Existe um outro caminho, o de Jesus: solidarizar-se com os marginalizados, os excluídos, tocar naqueles que a “lei” proíbe tocar, para reintegrá-los, obrigando a sociedade a se abrir e a criar estruturas mais acolhedoras. Mais messiânicas.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
(fonte: http://www.franciscanos.org.br/)